VACINA CONTRA HPV | Eficácia, efeitos e indicações

Autor: Pedro Pinheiro » Artigo atualizado em 17 de maio de 2015 no site MD SAÚDE
O Papilomavírus humano, mais conhecido pela sigla HPV, é um vírus transmitido pela via sexual, capaz de provocar verrugas genitais e os cânceres do colo do útero,  ânus, pênis e orofaringe.
A cada ano, cerca de 270 mil mulheres em todo mundo morrem por conta de tumores no colo útero provocados pelo HPV. No Brasil, estima-se que, anualmente, haja cerca de 15.000 casos novos de câncer do colo uterino.
Neste artigo vamos falar sobre a vacinação contra o HPV, medida que tem sido implementada no calendário vacinal de vários países nos últimos anos.
Se você está à procura de informações sobre o HPV ou verruga genitais, acesse os links do site md saúde:

  • HPV E CÂNCER DO COLO DO ÚTERO

  • O QUE É HPV – Sintomas, transmissão e tratamento

  • VERRUGAS COMUNS | VERRUGAS GENITAIS

    Antes de seguirmos em frente, veja esse curto vídeo, produzido pela equipe do MD.Saúde, que explica de forma simples a vacinação contra o HPV.

    Subtipos de HPV

    Existem cerca de 150 subtipos do Papilomavírus humano, nem todos capazes de provocar verrugas ou tumores malignos. Destes 150 tipos, 12 deles provocam verrugas genitais, sendo os subtipos HPV-6 e HPV-11 os mais comuns, respondendo por 90% dos casos. 15 tipos de HPV provocam câncer de colo de útero, pênis, ânus e orofaringe, sendo os subtipos HPV-16 e HPV-18 os mais perigosos.

    Em relação ao câncer, mais 70% dos casos são provocados pelo HPV-16 ou pelo HPV-18, motivo pelo qual esses dois subtipos são os alvos preferenciais das vacinas atualmente disponíveis.

    Vacinas contra HPV disponíveis no mercado

    Vacina HPVExistem no mercado 2 vacinas distintas contra o HPV. A vacina quádrupla, chamada Gardasil, atualmente disponível de forma gratuita no sistema público de saúde de vários países, age contra os subtipos 6, 11, 16 e 18. Esta vacina, portanto, protege contra os subtipos de Papilomavírus humano que mais causam câncer e que mais provocam verrugas genitais.

    A outra vacina disponível no mercado, mas não no serviço publico, é a Cervarix, uma vacina dupla (bivalente) que protege contra os subtipos 16 e 18. Esta vacina age contra os HPV que provocam câncer, mas não sobre os HPV que causam verrugas genitais.No Brasil, desde o início de 2014, o Ministério da Saúde tem disponibilizado no SUS a vacina quádrupla para meninas entre 9 e 13 anos de idade.

    Quem deve se vacinar contra o HPV

    A vacina contra o HPV foi desenvolvida com o objetivo de reduzir os casos de câncer do colo de útero nas mulheres. Porém, por ser uma causa importante de câncer peniano e anal, correspondendo a cerca de 40% dos casos, a vacinação contra o HPV também pode ser feita em homens.

    Atualmente, indica-se a administração da vacina quádrupla contra o HPV para homens e mulheres entre 9 e 26 anos. Em casos selecionados, quando o médico entender que a vacinação trará reais benefícios para o paciente, a vacina pode ser indicada também para pessoas acima dos 26 anos.

    Do ponto de vista de saúde pública, entretanto, a vacinação em massa da população é feita de forma diferente. Como câncer de pênis ou ânus são tumores muito menos comuns que o câncer de colo uterino, e como a vacina contra o HPV é muito mais eficaz se tomada por pessoas que nunca foram expostas ao HPV, de preferência crianças que ainda não iniciaram a sua vida sexual, em muitos países, incluindo o Brasil, o calendário vacinal só indica a vacinação em meninas entre 9 e 13 anos de idade.

    Isso não significa que homens ou mulheres até 26 anos não possam recorrer ao sistema privado de saúde para se vacinarem, caso seus médicos entendam que a vacinação seja importante.

    Já ter sido contaminado previamente com um subtipo de HPV não contraindica a realização da vacinação. Se uma mulher está ou esteve contaminada com o HPV-18, por exemplo, a vacinação quádrupla serve para preveni-la contra os outros 3 subtipos de  Papilomavírus humano.

    Atualmente, por falta de estudos que comprovem sua segurança para o feto, a vacinação contra o HPV não está indicada para a gestantes. Por outro lado, durante o aleitamento materno não há contraindicações.

    Como a vacina é feita com vírus inativo, ela pode ser administrada em pessoas com HIV ou qualquer outra causa de imunossupressão.

    Eficácia da vacinação contra HPV

    Quando tomada ainda na infância, antes do início da vida sexual, a vacinação tem uma eficácia de quase 100% na prevenção de tumores malignos do colo do útero provocados pelos subtipos 16 e 18.  Quando administrada em mulheres mais velhas, já com vida sexual ativa e, portanto, com maior risco de já terem sido previamente expostas ao HPV, a eficácia cai para apenas 44%.

    Nos homens nunca expostos ao HPV, a eficácia da vacina é um pouco mais baixa que na mulheres, mas, ainda assim, atinge os 90%.
    A vacinação quando feita em mulheres que já estejam infectadas com o HPV-16 ou HPV-18 aparentemente não causa danos, mas também não apresenta nenhum efeito benéfico sobre  a atual infecção. É importante salientar que a vacina serve para prevenir o HPV e não para tratá-lo.

    Atualmente, ainda não sabemos por quanto tempo a vacina confere imunidade. Como as vacinas são relativamente novas no mercado, a maioria das pessoas sob estudo ainda não tem 8 anos de vacinação. Por isso, para sabermos por quanto tempo mais uma pessoa ficará imune ao HPV após a vacinação serão necessários ainda mais alguns anos de estudos.

    Ao contrário do que ocorre em várias doenças infecciosas, ainda não existem sorologias pós-vacinação para o HPV, ou seja,  exames de sangue que sirvam para medir a concentração sanguínea de anticorpos contra o papilomavírus humano após a vacina.

    Entre os grandes estudos científicos que comprovam a eficácia da vacina contra o HPV, podemos destacar 3 deles:

    The FUTURE II trial – Estudo publicado na revista New England Journal of Medicine, com 12.000 mulheres de 15 a 26 anos, duplo cego, randomizado, multicêntrico e controlado por placebo. A vacina quadrivalente apresentou 98% de eficácia na prevenção de casos de NIC 2, NIC 3, adenocarcinoma in situ ou câncer de colo de útero.
    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=17494925

     

    The FUTURE 1 trial – Também publicado na revista New England Journal of Medicine. Estudo com 5.455 mulheres de 16 a 24 anos, duplo cego, randomizado, multicêntrico e controlado por placebo. A vacina quadrivalente foi 100% efetiva na prevenção de verrugas anogenitais, neoplasias vulvar e vaginal, NIC1, NIC 2, NIC 3 e adenocarcinoma in situ.
    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=17494926

     

    PATRICIA (Papilloma trial against cancer in young adults) – Publicado na revista Lancet. Estudo com 18.000 mulheres entre 15 e 25 anos, duplo cego, randomizado, multicêntrico e controlado por placebo. A vacina bivalente apresentou eficácia de 93% na prevenção de casos de NIC 2, NIC 3, adenocarcinoma in situ ou câncer de colo de útero.
    http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=19586656

     

    Doses da vacina contra HPV

    A vacina quádrupla é administrada habitualmente em 3 doses. O paciente toma a primeira vacina hoje e recebe mais dois reforços após 2 e 6 meses (chamamos de doses nos tempos 0, 2 e 6 meses). No Brasil e em alguns outros países que têm adotado a vacina quádrupla no calendário oficial o esquema tem sido feito de forma um pouco diferente. A segunda dose tem sido recomendada com 6 meses de intervalo e a terceira somente após 5 anos (tempos 0, 6 meses e 5 anos).

    A vacina bivalente também costuma ser administrada em 3 doses, nos tempos 0, 1 e 6 meses.

    Papanicolau nas mulheres vacinadas

    Ter sido vacinada contra o HPV reduz consideravelmente o risco de câncer de colo uterino, mas não o afasta em 100%. Primeiro porque a vacina só cobre os 2 subtipos mais perigosos do HPV; segundo porque algumas mulheres já podem estar infectadas com algum tipo de HPV no momento da vacinação, não havendo efeito da vacina sobre essa infecção já em curso; e terceiro porque há casos, pouco comuns, é verdade, de câncer do colo do útero não provocados pelo HPV.

    Portanto, de modo algum a vacinação exime a mulher de fazer o seu exame de Papanicolau rotineiro.

    Efeitos colaterais da vacina contra HPV

    Apesar de alguns boatos que volta e meia circulam entre a população, a vacina contra o HPV é segura. Seu perfil de efeitos colaterais graves é semelhante aos de outras vacinas presentes no calendário vacinal.
    Infelizmente, toda vez que surge uma nova vacina, espalham-se na Internet e nas redes sociais campanhas obscurantistas sobre os riscos de se vacinar, que apenas servem para alarmar a população e boicotar as campanhas de vacinação.

    É sempre lembrar, que assim como qualquer vacina, a vacina contra o HPV pode causar efeitos colaterais leves, como dor no local na injecção, dores de cabeça, tonturas e náuseas. Como a vacina será administrada em milhões de pessoas, é natural que nos próximos meses e anos sejam reportados vários casos de efeitos colaterais leves. Isso, porém, não significa que a vacina seja perigosa e não deva ser tomada. Várias outras vacinas presentes no calendário vacinal há décadas também apresentam efeitos colaterais leves frequentes.

    Só como exemplo, um estudo americano demonstrou que entre 2006 e 2013 foram administradas mais de 57 milhões de doses da vacina quadrivalente. O número de casos de efeitos colaterais reportados foi de cerca de 21 mil, ou seja, 0,03% das vacinações. Destes 21 mil, 19 mil foram efeitos colaterais leves, como dor no local da injeção. Nos restantes 2000 casos considerados moderados a grave (0,003%), a maioria foi de náuseas, vômitos, mal-estar, dor de cabeça, tonturas, hipotensão, febre, desmaios e fraqueza generalizada.

    Até 2011, 34 mortes haviam sido reportadas após a administração da vacina. Porém, em nenhuma delas foi possível estabelecer uma relação direta com o fato do paciente ter sido vacinado recentemente.

    Também não há evidências de que a vacina contra o HPV aumente o risco da ocorrência da síndrome de Guillain-Barré.

    Dois efeitos colaterais, porém, parecem ser mais comuns na vacina contra HPV do que em outras vacinas: síncope (desmaios) e trombose venosa. Ainda assim, dos 31 casos reportados de trombose venosa dos membros inferiores, 29 ocorreram em pacientes que apresentavam fatores de risco para trombose, como uso de anticoncepcionais hormonais ou história de doenças da coagulação.

    Pelo baixo, mas real, risco de desmaios, sugere-se o que o paciente fique 15 minutos em repouso após a vacinação.

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