Escolas nos EUA têm recomendação para começar aulas mais tarde
Especialistas apontam que dormir mais é necessidade dos adolescentes.
Estados Unidos recomendam que aulas comecem a partir das 8h10.
Estados Unidos recomendam que aulas comecem a partir das 8h10.
O pesadelo para Carol começa quando ela acorda, às 5h30. Um café rápido e, quando fica pronta, volta para a cama. “Geralmente, eu consigo dormir uns 20 minutos. De tênis e tudo. Eu boto os pés para fora da cama e durmo”, conta.
Dá para ver que o começo da manhã não é nada fácil para Carol. Nem para maioria dos adolescentes que entram na escola lá pelas 7h, 7h30. “Ela encontra as amigas assim, todo mundo mais ou menos do mesmo jeito” diz a mãe de Carol, Cristiane Bretas.
“É uma reunião de zumbis”, brinca a jovem.
Essa dificuldade toda para acordar não é preguiça. Dormir mais é uma necessidade na adolescência. “São várias mudanças que ocorrem. Mudanças hormonais. Mudanças na organização do sistema nervoso”, explica o neurocientista da UFPR Fernando Louzada.
Nessa fase, o cortisol, um hormônio que nos mantém em alerta, somente começa a ser liberado por volta de 6h30. Por isso, tanto bocejo nas primeiras horas do dia. “É como se ele tivesse, como é muito cedo de manhã cedo, ele não conseguisse engatar a primeira marcha”, aponta Gustavo Moreira, pediatra do Instituto do Sono.
E, para quem quer aprender, acordar tão cedo não é nada bom. “Já se sabe que o sono é essencial para a consolidação da aprendizagem. A gente consolida melhor se nós temos a oportunidade de dormir depois de aprender”, afirma Louzada.
São vários os estudos que mostram o quanto uma boa noite de sono é fundamental para os estudantes. Por isso, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos passou a recomendar que as aulas comecem a partir das 8h30.
“É muito difícil um adolescente conseguir dormir antes das 22h30. E eles precisam em torno de nove de sono“, diz o diretor da Academia Pediátrica da Medicina do Sono, Danny Lewin.
A cidade de Fairfax, no interior dos Estados Unidos, já está levando em consideração tudo isso. No mês que vem, os adolescentes vão começar a estudar às 8h10, e não mais às 7h. Resultado também da luta de uma mãe que, há 11 anos, entrou na Justiça pedindo para que seus filhos pudessem ir para a escola mais tarde.
“A professora toda hora pede para você prestar atenção e focar. A verdade é que conseguir manter os olhos abertos tão cedo já é difícil”, conta o estudante Thomas Payne.
Uma escola estadual de São Paulo decidiu trocar os turnos dos alunos e garantir algumas horas a mais de sono para os adolescentes. Agora, eles estudam à tarde, e as crianças passaram a ter aulas pela manhã. A experiência começou este ano e parece estar dando certo.
Fantástico: Você acha que presta mais atenção estudando de manhã ou de tarde?
Gabriel Almeida: Agora eu consigo pelo menos prestar a atenção no professor sem ter sono.
Fantástico: Melhoraram as notas?
Gabriel: Melhoraram. Antigamente era 5, agora foi para 8.
“O desempenho desses alunos melhorou, porque chegam na hora, faltam menos e participam mais das aulas porque, no período da tarde, eles estão despertos e mais atentos”, conta o vice-diretor da escola, Breno de Oliveira.
Para Alessandra e Lívia, que estudam às 7h, aconteceu o contrário. Elas tiveram uma queda no rendimento no momento que começaram a estudar de manhã. Em casa, a maratona para acordar começa às 4h.
Fantástico: Toca de quanto em quanto tempo a partir das 4?
Lívia Semeraro: Eu coloco de cinco em cinco minutos.
Uma péssima estratégia, dizem os especialistas. No meio da madrugada, é quando temos o sono mais profundo, que ajuda a fixar a memória do que aprendemos ao logo do dia. “O que o adolescente deve fazer é, às 21h, já desligar todos os eletroeletrônicos, fazer uma atividade calma e, às 22h, estar na cama”, ensina Moreira.
E, como a maioria das escolas continua começando cedo, sobra para o professor. “Sete horas da manhã é um horário ingrato mesmo, e matemática é a matéria que não é a preferida da maioria dos alunos. Então, a gente tem que buscar essas alternativas”, conta o professor Felippe Rossi.